Vivo pedindo emprestado os olhos dos meus amigos. Nem é porque enxergo mal. Mas porque posso ter uma perspectiva diferente.
É isso o que tanto busco quando pergunto “o que achou desse filme?” ou quando recomendo efusivamente que leia algum livro. Quero pescar coisas novas, que talvez eu tenha deixado passar. Quero me encantar de formas novas pelas mesmas coisas de sempre.
Isso me inclui, acho. É saudável se ver de fora dos nossos próprios delírios. Quando nos relacionamos, entregamos parte da nossa história para ser contada pelo outro. Viramos parte de suas memórias, assim como o outro também passa a habitar as nossas.
Um perigo esse negócio de poder contar com o olhar de alguém e acabar me vendo de uma forma que não esperava. Inclusive me ver como uma extensão do outro: em comidas que passo a gostar por causa de um amigo, ou no jeito de falar de uma amiga que copio sem nem perceber. Se livros são feitos de outros livros, pessoas são feitas de outras pessoas.