Na noite mais decisiva, um grande amigo me escrevia sobre a possibilidade de um futuro em que o povo pudesse se unir em torno da mesma bandeira. Respondi a ele que não sabia se as contradições desse país, bonito e brutal na mesma medida, coubessem debaixo de uma mesma bandeira. Eu estava envolta em névoa. A mesma névoa que pareceu envolver tudo desde aquela noite em 2018, em que soltavam fogos enquanto o então presidente eleito falava de metralhar a oposição. A mesma névoa que cobriu nossos dias enquanto testemunhamos o Brasil encolher, dia após dia, até parecer não nos comportar mais. Assistimos ao nosso País encolher moralmente, encolher de possibilidades, encolher de fome, encolher numericamente, enquanto perdíamos tantas pessoas para uma pandemia que foi usada como arma pelo governo contra seu próprio povo. Vimos a perversidade, a burrice e a falta de compaixão tornar o Brasil tão minúsculo quanto os homens que o governavam. A névoa embaçava os sentimentos, sufocava. A névoa parecia ser tudo o que existia. E então, na noite mais decisiva, começou a se dissipar.
© 2025 Aline Valek
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