Estou cada vez mais convencida da hipótese de que vivo em uma simulação. Às vezes as coisas se encaixam de uma forma perfeita até demais. Ouço um episódio do Tecnocracia e levo um susto quando percebo que estão falando sobre "Esperando Godot", livro que eu tinha acabado de ler há poucos dias. Olho para os lados, em busca da quarta parede para eu quebrar com a minha cara de espanto.
"Esperando Godot" é uma peça de teatro escrita por Samuel Beckett, encenada pela primeira vez nos anos 50. O título diz tudo: é a história de dois caras esperando por um terceiro cara, que nunca aparece. Por que precisam esperar? Não se sabe. Quem é Godot? Ninguém faz ideia. Absurdo é como tendem a classificar as histórias que carecem de explicações; mas veja se essa não é a definição purinha do que é a realidade.
Dois coitados debaixo de uma árvore. Quem aparece não é quem eles esperam. O tempo se arrasta, uma repetição após a outra. Descalçar a bota, tirar um cochilo, conversar sobre o poder de um chapéu para fazer pensar, falar sobre a morte, levantar as calças que escorregam para o chão. Adiar o suicídio, só pra ver se Godot chega.
No final do episódio do podcast, Guilherme Felitti apresenta uma interpretação de que Vladimir e Estragon na verdade se deram bem pelo que não apareceu. "Frustradas suas expectativas, eles finalmente estariam livres para viverem suas vidas, mesmo com aquela dificuldade para se mover."