Sai a carta do Demônio e não fico mais assustada. A imagem é tenebrosa, mas sei que cabe dentro dela muita coisa além do puro e simples mal. Pode representar desejo. Ou o prazer por tudo que é carnal, material, bestial. Comida boa, roupas caras, vinho, drogas, luxúria, farra, gozo, descer até o chão. Pode ser o sátiro da sacanagem. A vida de rockstar. A falta de vergonha.
Imagina fazer o que você quer, simplesmente fazer e dane-se as consequências? O tipo de coisa que o diabo sussurra. Vai ver foi o que ouviu a moça andando de biquini e botas aqui na rua, um dia qualquer da semana. Passava atraindo olhares desacreditados, risos constrangidos, cabeças balançando em desaprovação. Tá doida, tadinha. Andava com passos firmes, provocando uma onda de caos atrás de si, quase como se não percebesse, ou não ligasse. Então passou. Sumiu em alguma esquina, mas deixou efeito em cada testemunha daquela aparição. Bastou um toque de estranho, um biquini onde não se espera vê-lo, e lá estava a perturbação: imagina, simplesmente fazer o que você quer?
Vade retro! Diabo pode ser aquilo do que queremos fugir, por isso pintar de chifres e corpo animalesco. Insuportável encarar. E nem precisa ser algo ruim para querermos distância. Às vezes é justamente o contrário. Às vezes o assustador é se entregar ao que desejamos.