Na edição de hoje, escrevo sobre um tema difícil que pode ser gatilho para muita gente: nazismo, guerra, campos de concentração, ditaduras. Não foi confortável escrever e entendo que também pode ser desconfortável ler. Fica o aviso para que você decida se vai prosseguir a leitura ou não.
"Arbeit macht frei", ou "o trabalho liberta": eram essas as palavras, escritas em ferro no portão, que recebiam os prisioneiros que chegavam ao campo de concentração na pacata cidade de Dachau, nos arredores de Munique.
Os homens passavam pelo portão em fila, carregando os paletós no braço, como se estivessem em excursão. A maioria, talvez, pisava ali imaginando que seria uma situação passageira, que em algum momento voltaria para casa. Os guardas orientavam a esperar ou a seguir para o galpão adiante, sem a necessidade de serem rudes. Tratavam os prisioneiros com a firmeza de quem cumpria ordens, como todos ali. Protocolos. Mais um dia de trabalho. Podem vir por aqui, agora.
Quando piso nessa mesma entrada, 90 anos depois, o que vejo é um enorme campo vazio e pinheiros tão altos no horizonte que fazem os alojamentos à esquerda parecerem miniaturas em uma maquete. Os galpões perto da entrada são estruturas simples. Tudo é muito horizontal, nenhuma construção tem mais de um andar, exceto as torres dos vigias. Nada naquele espaço físico impressiona.