Chego cedo demais para minha primeira aula de improviso. A sala indicada no e-mail ainda está trancada, então procuro um lugar para sentar na entrada do centro cultural e volto para o conto de Kafka que eu estava lendo: "Josefina, a cantora, ou O povo dos ratos" (no original em alemão: "Josefine, die Sängerin oder Das Volk der Mäuse"). Foi a última história que ele escreveu.
É sobre uma ratazana, a maior cantora do mundo dos ratos, que tenta negociar com o público que a libere de trabalhar para que ela possa se dedicar ao canto. O tipo de história que me pega demais, tanto pelo absurdo, quanto por estar recheado de reflexões sobre o fazer artístico, sobre a relação entre artista e público, ainda que o autor esteja falando de roedores.
Fico entretida com os guinchos de Josefina, tentando imaginar se Kafka sorria enquanto escrevia essas maluquices, ou se teria usado alguma cantora de sua época como referência para a personagem (quem foi a Lady Gaga da década de 20 passada?), até que percebo um movimento no corredor.