Artista precisa de validação ou desmancha no ar. Por isso, dá muito trabalho ser amigo de escritor. É o tipo de amizade que vem com um calhamaço de mil páginas em anexo. Tem que valorizar muito quem encara o dever de casa que vem no pacote de gostar de mim, que envolve: ler alguns livros, frequentar eventos em livraria, eventualmente levar papel para casa, abrir meus emails toda semana e alimentar meu ego com biscoitos vez ou outra. Isso já é mais do que muitas disciplinas de faculdade exigem, e eu nem ofereço diploma.
Se algum amigo já se sentiu na obrigação de ler o que escrevo, gostaria de esclarecer que espero sinceramente que se sinta sim. Como pode gostar de mim e não gostar do que escrevo? Eu não sou muito simpática, não tenho habilidades que seriam úteis em uma situação de calamidade, não saberia o que fazer se alguém próximo engasgasse, não tenho dinheiro para emprestar e evito sair de casa. O melhor que tenho para oferecer à sociedade é minha habilidade de combinar palavras para criar pensamentos na cabeça das pessoas. Não dá para entender quando um amigo não se interessa pelo meu melhor. É a mesma confusão que um gato deve sentir quando leva um belíssimo rato morto de presente para seu humano favorito e é recusado com gritos de nojo. Ingrato!