Estou de saída do Brasil. Falo em voz alta para ver como soa, e cada vez que conto para alguém, fica mais oficial, porque é o que a palavra faz: dá substância para algo que por enquanto existe apenas naquela zona nebulosa dos futuros distantes. Sim, dois meses é pouco tempo, mas me parece uma medida tão longínqua quanto a ideia de cruzar o oceano, então aproveito para me acostumar com a ideia enquanto escrevo.
O breaking news aqui é que vou me mudar para a Alemanha: Marcos arrumou emprego em Munique e estamos indo para lá! Morar em outro país é algo que está no nosso horizonte faz um tempo, e agora que se concretizou estou num misto de animada com as possibilidades, curiosa com o mundo novo que vou descobrir, e perdidaça com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo.
Tem sido uma correria para além do habitual que o trabalho e a casa já cobram: uma confusão de planilhas, prazos, uma série de tarefas para cumprir como se eu estivesse numa gincana maluca do SBT e o cronômetro mostrando que o tempo está se esgotando. Tudo acontecendo numa outra velocidade e tem dias que me pego confusa com o tempo, como se eu fosse um personagem de Dark e precisasse constantemente perguntar: que ano é hoje?
Conto a novidade para uma grande amiga e ela já me responde em alemão: “sprechen wir deutsch jetzt?” Muita calma aí, que mal tenho o vocabulário de uma criança de dois anos! Comecei a estudar alemão com uma professora suíça e é uma hora que passa depressa demais com tanta coisa nova para absorver. Quer fazer o tempo VOAR? Arrume algo difícil para fazer.
Abro o Scrivener para escrever esta newsletter e DO NADA a interface me aparece toda em alemão. Só por que eu estava caçando como fazer o ß no teclado não quer dizer que eu queira mudar o idioma assim de repente! Scrivener já querendo adiantar minha mudança, veja que ousadia. Isso me fez perceber que não vou morar somente em outro país, mas numa outra língua. E que bagunça fica a biblioteca mental quando se abre espaço para instalar um novo idioma.
Ir para um lugar onde você não entende o que raios as pessoas estão falando não é tão louco assim. Pensando bem, na minha própria língua já é uma LUTA entender as pessoas, já é complicado me comunicar. Tenho lá alguma prática em estar perdida. Estou pronta para continuar não entendendo nada, agora em outro país!
Apesar disso, vou continuar no Brasil. Porque meu trabalho não acontece em um espaço físico, mas dentro de um idioma. Vou continuar a escrever e trabalhar com histórias, vou continuar em contato com você, que lê minhas palavras.
Eu me mudar para longe não significa uma despedida! Internet está aí para isso. Vou continuar essa grande conversa em português, na literatura e na minha vida digital, mesmo sabendo que viver dentro de outra cultura vai me abrir para um outro mundo de ideias, de palavras e personagens. Como isso vai afetar minha escrita? Só passando por esse portal para saber.
Já passou ou está no processo de se adaptar à vida em outra cultura? Me conta como foi / está sendo para você?
Bobagensverso
🐝 Já foram ao ar três episódios nesta temporada de Bobagens Imperdíveis! Já contei a história da primeira romancista do mundo, fui de Tom Hanks a Lacan para desvendar um grande mistério e revelei um projeto inacabado de Mário de Andrade como funcionário do Ministério da Educação. Episódios disponíveis em todas as plataformas, complete já a sua coleção!
🔍 Quem me apoia com R$ 20 ou mais recebe um arquivo com as referências e leituras que vou acumulando durante as pesquisas para meus roteiros. Esta semana, enviei aos apoiadores o meu dossiê de pesquisa sobre as sereias.
☕️ Enquanto isso, no grupo dos apoiadores, o clube de leitura deste ano já começou! O livro de março a ser discutido pelos Valekers é Neuroses a varejo. Bora?
📚 Minha loja está aberta e ainda tenho exemplares de Bobagens Imperdíveis para ler numa manhã de sábado pela metade do preço! Última chance de comprar meus livros assinados diretamente comigo, aproveite!!!
Hoje uma edição mais curta porque eu só queria contar as novidades e também porque ando sem muito assunto fora a mudança. Não quero me estender muito enquanto eu estiver uma chata monotemática.
Escrevo porque me ajuda a desembaralhar as ideias e a visualizar melhor a situação, embora eu entenda que isso possa ter zero utilidade para quem quer que esteja lendo.
Volto a qualquer momento com novas tentativas de driblar o caos.
Um beijo e até,
Aline.
Oi Aline! Há sete anos vivo no Uruguai e sei bem o turbilhão de sentimentos que vc deve estar sentindo! Viver em ouro país é incrível, mágico, excitante! E também é mega difícil, solitário e desafiante. Claro que no meu caso a distância não é tão grande quanto a tua, tanto geograficamente quanto culturalmente. Mas estar longe do ninho e ser a estrangeira com certeza são pontos em comum que todas as pessoas que vivem essa experiência compartilham. Se puder ajudar em qualquer coisa, é só dizer! Te desejo boa sorte e muitas aventuras germânicas :)
Ei Aline, eu passei por isso e me coloco a disposição pra conversar cobre o que quiser: idioma, clima, carreira, amizades, o que vier. Eu moro na Austria já há quase 6 anos, o marido arrumou o emprego e viemos. Algumas coisas foram bem mais fáceis do que eu imaginava que seria (clima e comida, por exemplo), a gente se acostuma fácil com coisa boa (transporte público e benefícios trabalhistas? chef's kiss!), mas tem coisa que ainda é um problema sim (idioma e a carreira resetada). O dialecto austríaco é bem parecido com o bávaro, vc possivelmente passará raivas parecidas com as minhas. Enfim, tamo aí!