É setembro de 2021 e eu não vejo mais sentido no meu trabalho.
Fiquei esperando o tal burnout, mas não entrei em combustão ainda. Nada apoteótico, nenhum curto-circuito dramático ou pico de exaustão que justificasse minhas falhas ou ausências, que desse conta de explicar porque não quero mais.
Fiquei esperando o surto vir, sentada no elevado platô do gráfico do meu cansaço. Lá de cima, só deu para sentir um vazio persistente. E sempre me recusei terminantemente a fazer do nada um assunto. Mas é só nada que tenho para qualquer começo de conversa.
“Desconectada da minha magia”. Leio as palavras de Taís Bravo, grata por existirem pessoas acendendo fósforos em meio à escuridão.
Às vezes a magia volta, em espasmos. Na maior parte do tempo, preciso recorrer aos velhos truques, como um mágico de festa infantil em fim de carreira. O maior truque de todos é continuar, ainda que pareça dar em lugar nenhum. Ainda que pareça que já fui deixada para trás.
Tanto continuei que em meio a uma pesquisa esbarro com um ditado japonês:
継続は力なり
Keizoku wa chikara nari. Em tradução literal, “continuação é poder”. O poder está na prática contínua, em se manter fazendo. A importância de se manter de pé.
Rascunho duas, três diferentes newsletters. Começo a trabalhar furiosamente em novos episódios do podcast. Sem saber por quê, sigo na contramão do meu desejo de sumir. Vai ver só continuo porque me falta imaginação para elaborar um plano B.
Então desisto de inventar história, de abordar o assunto com alguma criatividade, como quando escrevi sobre o passeio no cemitério. Não vai ter risada para encerrar dessa vez. Me agarro à verdade, o único truque que me restou, e a verdade é que o assunto que eu estava evitando era a única coisa que eu realmente tinha para dizer.
Quando continuar voltar a fazer sentido, eu volto aqui para contar.
Um beijo,
Aline.
Vamos amar quando voltar. Mas por amor também queremos que fique bem.
:´( que triste, apareça de vez em quando. ficaremos felizes em te encontrar feliz.