Uma Palavra

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[EDIÇÃO SECRETA] Três anos como imigrante
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[EDIÇÃO SECRETA] Três anos como imigrante

🗝️ E os segredos que ouvi de um dos criadores de Watchmen.

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Aline Valek
jun 25, 2025
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[EDIÇÃO SECRETA] Três anos como imigrante
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Esta é uma daquelas edições mais intimistas que endereço apenas às generosas pessoas que apoiam meu trabalho. Envio aqui uma amostra em aberto a todos os leitores como um convite e um lembrete do quanto esse apoio é importante para a continuidade das minhas produções. Com R$ 5 por mês, você já tem acesso às edições secretas, a todo acervo de Uma Palavra e ao aconchegante grupo dos Valekers. Escolha o valor que quiser pelo Apoia-se, ou faça uma assinatura (mensal ou anual) aqui pelo Substack e apoie uma autora brasileira enquanto ela está viva (oferta por tempo limitado)!

Olá, navegante.

No momento em que te escrevo, completo exatos três anos na Alemanha. Uma jornada que começou sem eu saber muita coisa (onde isso vai me levar, quanto tempo o delírio de viver em outro país vai durar, se um dia irei aprender alemão), mas eis-me aqui, renovando todas essas incertezas por mais um ano. As dúvidas fazem parte do pacote. Com frequência, me pergunto “o que diabos estou fazendo aqui?”. Mas a ideia de voltar para o Brasil, embora sedutora, não faz muito sentido. Quer dizer, eu sequer saí do Brasil? Trabalho em português, escrevo para brasileiros, marco compromissos no fuso do Brasil e, para meu sufoco, ganho em reais. Nada mal conseguir viver na Alemanha enquanto faço do português o meu sustento, preciso reconhecer, embora meu idioma nativo seja, na verdade, a reclamação. Ter chegado até aqui sem precisar deixar de fazer literatura brasileira só confirma que eu já sabia de alguma coisa quando, antes de juntar minhas trouxinhas e zarpar para além-mar, escrevi que meu trabalho não é em um lugar, mas em um idioma. Eu ter tido a sorte de juntar ao meu redor uma comunidade de leitores espalhados pelo mundo que sempre me fazem sentir menos sozinha tem muito a ver com isso (obrigada, Valekers). Consegui a façanha de ter o corpo em um endereço e a cabeça em outro. Ou talvez seja justamente essa a definição de ser imigrante. Você nunca sai por inteiro do seu país de origem. Passa a viver nas frestas do entendimento, a fazer morada bem no meio do caminho, em cima da fronteira. Não vou mentir: às vezes é enlouquecedor viver dividida, tendo que me refazer inteira do lado de cá enquanto mantenho o que construí do lado de lá. Às vezes me sinto, parafraseando Bilbo Bolseiro, esticada como um pouco de manteiga espalhada em uma enorme fatia de pão. As dúvidas permanecem porque o caminho não está traçado de antemão. Por mais que outras pessoas também estejam imersas nesse mesmo tipo de travessia, com perrengues e descobertas muito parecidas, cada um tem o seu próprio caminho e precisa inventar sua própria maneira de continuar. Que é exatamente a definição de ser artista. Não dá para saber até quando irei permanecer nessa condição, mas espero aproveitar esse tempo para aprender o quanto puder. E saber responder a mim mesma quando bate a crise que é isso que vim fazer aqui. Aprender. Exercitar um olhar diferente. Usar a distância para enxergar melhor. Claro que ganhar em euros também não seria ruim. Mas também estou aqui para ajudar a criar espaço para as misturas. Ou talvez para aprender que mais importante que ter um lugar para chamar de casa, é entender que você tem força o suficiente para carregar sua casa nas costas seja para onde for.

Não adianta ter pressa, como sempre me lembra meu amigo caracol

Quadrinhos têm sido boa parte das minhas leituras em alemão até agora. Para muito além da imagem tornar a leitura mais acessível quando não domino o idioma completamente, me sinto especialmente acolhida em uma linguagem que também habita uma divisa entre dois mundos: a imagem e a palavra.

Por isso, fiquei animada de ir ao Comic Festival de Munique pelo segundo ano consecutivo. Além da minha usual pesquisa sobre o que está sendo publicado na Alemanha e de conhecer mais artistas daqui, eu teria a oportunidade de ter uma verdadeira aula com um dos grandes mestres dos quadrinhos: ninguém menos que Dave Gibbons, ilustrador britânico que trabalhou com Alan Moore para criar Watchmen.

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