Divisa entre Bolívia e Brasil e a professora Suzana dentro de um ônibus fazendo a travessia. De olhar e de ouvir, não dá para saber se ela é boliviana ou brasileira. Em portuñol — essa mistura que coloca português e espanhol para dançarem juntos —, ela conta para a câmera sobre como as pessoas se comunicam naquele lugar. Suzana explica que, na fronteira, tida como lugar de divisão, as pessoas acabam criando práticas de aproximação — a mistura dos idiomas é uma delas.
Portuñol, dirigido por Thais Fernandes, é o documentário onde vi essa cena. Curti demais. O doc passa por várias cidades de fronteira onde o Brasil se toca com outros países: Paraguai, Uruguai, Bolívia, Argentina. Nesse percurso, vemos como as pessoas que vivem nessas bordas se comunicam numa mistura de guarani, português e espanhol (ou castelhano).
As falas da professora Suzana me cativaram. Porque ela explica como a fronteira está em todo lugar e como estamos todos em trânsito, o tempo todo. “Estamos em trânsito de idade, de condição social”. Nossos próprios interesses vivem em trânsito, mudando de lugar. E quando mudamos de faixa etária, de classe social, de território, nossos assuntos mudam junto. Ganhamos outro vocabulário. Novas forma de articular a realidade.