Eu fiz uma tatuagem no mês passado que reflete exatamente essa sensação: Antevasin. É o aprendiz que sai do seu lugar para aprender "na fronteira". Ele é o eterno aprendiz e a partir do momento que saiu, não "se encaixa" mais no lugar de origem. A questão é que ele tbm não pertence ao lugar onde está. Ficamos nesse embate do não pertencimento, de sermos estrangeiros (também na nossa própria terra).
Não precisa ser do país mesmo! Sair de Recife para sp e agora pro Rio me fez ver que é realmente possível ser estrangeira dentro do Brasil. Sem o direito de ser porque para muitos o óbvio é apenas o que viveram e conhecem. Ontem vi essa frase “Para sobreviver a fronteira, você deve viver sem fronteiras, ser um cruzamento” da Anzaldúa e me soou como convite a nós, sobreviventes e aprendizes. ❤️
mudei criança para o brasil, passei muito, mas muito tempo mesmo, detestando esse país. Aprendi perfeitamente o idioma, pois criança, msm não querendo ler ou ouvir nada nele. Voltei para a Itália, de onde vim, e vi que não era mais de lá também. Passei um tempo nessa. voltei para o brasil. Passei a apreciar o fato de que pude ver um idioma se transformar em língua materna na minha própria cabeça, e essa sensação de ser uma pessoa estrangeira, sempre, se transformou um pouco. De "não sou de lugar nenhum" passou para "sou de todos os lugares". É isso mesmo, ser um cruzamento. E é difícil, demora, leva tempo. Não é um processo amigável, eu acho, mas gosto de ter chegado até aqui. Obg por suas palavras.
Fiquei emocionada. Sempre tive um grande desejo de morar fora do Brasil, penso que era um desejo de encontrar o meu lugar, que hoje já entendi que não existe, mas como estrangeira legitimo meu sentimento de não pertencimento.
Esse lugar de pertencimento vamos construindo com o tempo. Mais do que neste ou naquele lugar, nas relações que vamos criando na vida. Obrigada pela leitura!
Identificação com esse texto do começo ao fim! Aliás, hoje olhei para as sacolas empilhadas atrás da porta da cozinha e pensei com uma preguiça descomunal “hora de levar pro mercado”. Socorro, esse alemão parece que nunca será algo compreensível pra mim. Aqui é ser uma eterna tentativa de ser uma aprendiz.
Mudar de classe social... ser estrangeira na sua própria cidade pq não frequentou a escola particular, o clube, os almoços naquele restaurante tradicional familiar. É mais legal ser estrangeiro fora da sua cidade, onde não há passado, nem raízes. Saudades que tive de ser estrangeira agora... rsrs
Vc é a garrafa de pinot, eu sou a música do engenheiros do havai.
adorei seu texto! eu também estou vivendo uma fase de “não sou daqui”, morando em nova york. é uma adaptação muito maior do que eu esperava. mas escrever sobre a experiencia tem ajudado a entender tudo (e eu mesma) melhor...
Adorei! Não apenas compartilho o sentimento de me sentir estrangeira desde sempre, desde muito antes de começar a viajar, como seu texto me trouxe várias imagens à memória.
Como a primeira vez que fui ao centro de São Paulo sozinha, de metrô, e perdida nas indicações subterrâneas sobre qual saída seria a melhor para mim, saí por uma qualquer, virei à esquerda, e fiquei andando ao redor da praça da República até conseguir me localizar. Rápido. Para ninguém perceber que eu estava perdida na minha própria cidade.
A outra imagem me remete a Berlim. Passei um mês lá, há uns tantos anos. Não falo alemão. Mas apesar de ter um inglês bem bom, me recordo que aquele foi um mês em que quase não falei. Percebi que, nas relações sociais corriqueiras, conseguia saber o que estava acontecendo mesmo sem compreender as palavras que me eram direcionadas. Por exemplo, no caixa do supermercado, eu compreendia quando a pessoa queria saber qual a forma de pagamento, ou se eu teria uma nota menor do que os infernais 100 euros que tanto trabalho me deram, à época, para trocar. Com um pouco de observação, consegui ir aprendendo as etiquetas, as etapas, a ordem das coisas. Sorria, acenava a cabeça, gesticulava, não por que não conseguia me exprimir, mas por que essa se mostrou uma forma também válida de viver. Foi bacana.
Enfim. Hoje, amo ser estrangeira pois creio que isso me dá muito mais liberdade. É como vc disse, poder errar é lindo! E faço questão.
Esse (não) lugar do "entre" sempre me lembra os livros do Bernardo Carvalho, que se dedica muito a abordar personagens nessa condição, acho que especialmente em Mongólia, O filho da mãe e Nove noites.
engraçado que esses dias escrevi sobre solidão na minha newsletter e lendo a sua fiquei pensando que a solidão faz a gente se sentir estrangeira, como corina, em qualquer lugar, mesmo que seja um lugar no qual "pertencemos"... e, inclusive, escrevi que a solidão exige aprender línguas novas rs. aprender uma língua nova é algo incrível e agonizante ao mesmo, eu acho que eu também não teria paciência pra esperar um verbo no final da frase – mas tenho adorado a experiência de brincar com os sons das palavras agora que estou aprendendo italiano. ma che cosa 🤌
E aqui em Portugal: o sentimento de ser estrangeira mesmo quando partilhamos línguas irmãs... as piadas não funcionam, algumas expressões não fazem sentido. E é impressionante como a comunicação vira um desafio.
Suspeito que você é uma ET vivendo uma primeira encarnação na Terra... E, neste sentido, o seu problema não é mesmo de linguagem, mas de lidar com sentimentos. Não é simples sair de lá (seja onde for) e vir para cá trocar impressões, sensações & sentimentos.
Ou você viveu experiências muito significativas em outras existências e ainda não se adaptou.
A se conferir, num futuro qualquer, aqui ou acolá!
Hahahah Abel, seu comentário me pegou desprevenida! Será que pertenço a outro planeta? A outro plano? Será que esqueci minhas memórias do outro lado, tal qual quem esquece as chaves antes de sair de casa, e por isso não consigo lembrar que raios vim fazer aqui, para onde tenho que ir, o que tenho que levar de volta? Ou talvez seja parte do rolê não lembrar desse "antes", para eu aproveitar melhor a experiência humana, que é mesmo essa, de nascer em um mundo que não faz o menor sentido. Você parece ter respostas! Há quantas encarnações você está na Terra? :) Obrigada por pousar por aqui! Beijão.
Este papo nosso parece conversa de doido, mas tenho muitas vivências práticas nos interstícios dos mundos de lá e de cá (participo de duas reuniões mediúnicas, como dialogador, toda semana).
Um exemplo só: meu filho caçula foi diagnosticado como autista e cuidado como tal (tem alto desempenho, hoje com 21 anos e se prepara para ser designer de jogos, etc..) Uma comunicação espiritual (espontânea) tempo desses nos trouxe a informação de que os sintomas que o situou como autista decorreu, em verdade, dele estar reencarnando depois de muito tempo (não saberia precisar o quanto exatamente). Enfim, problemas de acoplagem em um novo corpo...
Quanto ao esquecer, tens toda razão, é melhor do que nos lembrarmos. Já soube de algumas das minhas encarnações e não fui gente sensata ou bondosa!!
Parte de nós está aqui há muitos milhões de anos. Outros há centenas de milhares de anos. Se calculados apenas o período do homo sapiens sapiens (330 mil anos) dá para chutar que alguém poderia ter reencarnado umas três mil vezes! kkkk
Que percepção mais bonita sobre aprender. E que loucura é também pensar que, muitas vezes, a gente precisa passar por uma ruptura tão radical quanto mudar de país para se permitir viver a vida como aprendiz.
Agora quem já passou por cisões mais profundas - tipo quem entende em primeira pessoa que "mudar de classe social pode ser mais difícil do que mudar de país" - consegue até, quem sabe, se divertir com o processo em algumponto. Ou (e) criar histórias a partir disso, como você fez, pra nossa sorte. :}
Eu fiz uma tatuagem no mês passado que reflete exatamente essa sensação: Antevasin. É o aprendiz que sai do seu lugar para aprender "na fronteira". Ele é o eterno aprendiz e a partir do momento que saiu, não "se encaixa" mais no lugar de origem. A questão é que ele tbm não pertence ao lugar onde está. Ficamos nesse embate do não pertencimento, de sermos estrangeiros (também na nossa própria terra).
Não conhecia essa palavra, Andrea! Achei o conceito muito bonito e faz MUITO sentido. Obrigada por vir compartilhar <3
Adorei! Principalmente a parte do "entre". Sobretudo, me fez pensar imediatamente numa música do uruguaio Jorge Drexler, que diz "yo no soy de aquí, pero tu tampoco". Compartilho o link, espero que goste! https://open.spotify.com/track/7pBoi7yWCPzn3UjeMsGKg6?si=0Z4FReVPSeWvEjrp-t9q3g&context=spotify%3Aplaylist%3A37i9dQZF1DZ06evO2BSlKE
Caramba, que música! Somos de uma espécie de imigrantes. Obrigada por compartilhar!
Não precisa ser do país mesmo! Sair de Recife para sp e agora pro Rio me fez ver que é realmente possível ser estrangeira dentro do Brasil. Sem o direito de ser porque para muitos o óbvio é apenas o que viveram e conhecem. Ontem vi essa frase “Para sobreviver a fronteira, você deve viver sem fronteiras, ser um cruzamento” da Anzaldúa e me soou como convite a nós, sobreviventes e aprendizes. ❤️
Gostei. Acho que vou trocar meu não pertencimento crônico (alô, terapia) por um entendimento de que podemos ser habitantes de um Entremundos.
Somos bichos de fronteira, amigo ;)
mudei criança para o brasil, passei muito, mas muito tempo mesmo, detestando esse país. Aprendi perfeitamente o idioma, pois criança, msm não querendo ler ou ouvir nada nele. Voltei para a Itália, de onde vim, e vi que não era mais de lá também. Passei um tempo nessa. voltei para o brasil. Passei a apreciar o fato de que pude ver um idioma se transformar em língua materna na minha própria cabeça, e essa sensação de ser uma pessoa estrangeira, sempre, se transformou um pouco. De "não sou de lugar nenhum" passou para "sou de todos os lugares". É isso mesmo, ser um cruzamento. E é difícil, demora, leva tempo. Não é um processo amigável, eu acho, mas gosto de ter chegado até aqui. Obg por suas palavras.
Fiquei emocionada. Sempre tive um grande desejo de morar fora do Brasil, penso que era um desejo de encontrar o meu lugar, que hoje já entendi que não existe, mas como estrangeira legitimo meu sentimento de não pertencimento.
Esse lugar de pertencimento vamos construindo com o tempo. Mais do que neste ou naquele lugar, nas relações que vamos criando na vida. Obrigada pela leitura!
Identificação com esse texto do começo ao fim! Aliás, hoje olhei para as sacolas empilhadas atrás da porta da cozinha e pensei com uma preguiça descomunal “hora de levar pro mercado”. Socorro, esse alemão parece que nunca será algo compreensível pra mim. Aqui é ser uma eterna tentativa de ser uma aprendiz.
Ai Lalai, me abraça. Um dia vamos olhar para trás e achar graça desse tempo em que a gente não entendia nada direito kkkkcrying
hahahahaha, espero que sim!
Mudar de classe social... ser estrangeira na sua própria cidade pq não frequentou a escola particular, o clube, os almoços naquele restaurante tradicional familiar. É mais legal ser estrangeiro fora da sua cidade, onde não há passado, nem raízes. Saudades que tive de ser estrangeira agora... rsrs
Vc é a garrafa de pinot, eu sou a música do engenheiros do havai.
adorei seu texto! eu também estou vivendo uma fase de “não sou daqui”, morando em nova york. é uma adaptação muito maior do que eu esperava. mas escrever sobre a experiencia tem ajudado a entender tudo (e eu mesma) melhor...
Adorei! Não apenas compartilho o sentimento de me sentir estrangeira desde sempre, desde muito antes de começar a viajar, como seu texto me trouxe várias imagens à memória.
Como a primeira vez que fui ao centro de São Paulo sozinha, de metrô, e perdida nas indicações subterrâneas sobre qual saída seria a melhor para mim, saí por uma qualquer, virei à esquerda, e fiquei andando ao redor da praça da República até conseguir me localizar. Rápido. Para ninguém perceber que eu estava perdida na minha própria cidade.
A outra imagem me remete a Berlim. Passei um mês lá, há uns tantos anos. Não falo alemão. Mas apesar de ter um inglês bem bom, me recordo que aquele foi um mês em que quase não falei. Percebi que, nas relações sociais corriqueiras, conseguia saber o que estava acontecendo mesmo sem compreender as palavras que me eram direcionadas. Por exemplo, no caixa do supermercado, eu compreendia quando a pessoa queria saber qual a forma de pagamento, ou se eu teria uma nota menor do que os infernais 100 euros que tanto trabalho me deram, à época, para trocar. Com um pouco de observação, consegui ir aprendendo as etiquetas, as etapas, a ordem das coisas. Sorria, acenava a cabeça, gesticulava, não por que não conseguia me exprimir, mas por que essa se mostrou uma forma também válida de viver. Foi bacana.
Enfim. Hoje, amo ser estrangeira pois creio que isso me dá muito mais liberdade. É como vc disse, poder errar é lindo! E faço questão.
Esse (não) lugar do "entre" sempre me lembra os livros do Bernardo Carvalho, que se dedica muito a abordar personagens nessa condição, acho que especialmente em Mongólia, O filho da mãe e Nove noites.
engraçado que esses dias escrevi sobre solidão na minha newsletter e lendo a sua fiquei pensando que a solidão faz a gente se sentir estrangeira, como corina, em qualquer lugar, mesmo que seja um lugar no qual "pertencemos"... e, inclusive, escrevi que a solidão exige aprender línguas novas rs. aprender uma língua nova é algo incrível e agonizante ao mesmo, eu acho que eu também não teria paciência pra esperar um verbo no final da frase – mas tenho adorado a experiência de brincar com os sons das palavras agora que estou aprendendo italiano. ma che cosa 🤌
E aqui em Portugal: o sentimento de ser estrangeira mesmo quando partilhamos línguas irmãs... as piadas não funcionam, algumas expressões não fazem sentido. E é impressionante como a comunicação vira um desafio.
Nossa, já vivi um pouco do que vc está vivendo na Alemanha e nunca me senti tão livre. Foi libertador! Obrigada por me relembrar e refletir sobre.
Suspeito que você é uma ET vivendo uma primeira encarnação na Terra... E, neste sentido, o seu problema não é mesmo de linguagem, mas de lidar com sentimentos. Não é simples sair de lá (seja onde for) e vir para cá trocar impressões, sensações & sentimentos.
Ou você viveu experiências muito significativas em outras existências e ainda não se adaptou.
A se conferir, num futuro qualquer, aqui ou acolá!
Hahahah Abel, seu comentário me pegou desprevenida! Será que pertenço a outro planeta? A outro plano? Será que esqueci minhas memórias do outro lado, tal qual quem esquece as chaves antes de sair de casa, e por isso não consigo lembrar que raios vim fazer aqui, para onde tenho que ir, o que tenho que levar de volta? Ou talvez seja parte do rolê não lembrar desse "antes", para eu aproveitar melhor a experiência humana, que é mesmo essa, de nascer em um mundo que não faz o menor sentido. Você parece ter respostas! Há quantas encarnações você está na Terra? :) Obrigada por pousar por aqui! Beijão.
Este papo nosso parece conversa de doido, mas tenho muitas vivências práticas nos interstícios dos mundos de lá e de cá (participo de duas reuniões mediúnicas, como dialogador, toda semana).
Um exemplo só: meu filho caçula foi diagnosticado como autista e cuidado como tal (tem alto desempenho, hoje com 21 anos e se prepara para ser designer de jogos, etc..) Uma comunicação espiritual (espontânea) tempo desses nos trouxe a informação de que os sintomas que o situou como autista decorreu, em verdade, dele estar reencarnando depois de muito tempo (não saberia precisar o quanto exatamente). Enfim, problemas de acoplagem em um novo corpo...
Quanto ao esquecer, tens toda razão, é melhor do que nos lembrarmos. Já soube de algumas das minhas encarnações e não fui gente sensata ou bondosa!!
Parte de nós está aqui há muitos milhões de anos. Outros há centenas de milhares de anos. Se calculados apenas o período do homo sapiens sapiens (330 mil anos) dá para chutar que alguém poderia ter reencarnado umas três mil vezes! kkkk
Perfeição de texto! A sensação de se sentir estrangeiro dentro do próprio mundo me pegou enquanto eu lia.
Que percepção mais bonita sobre aprender. E que loucura é também pensar que, muitas vezes, a gente precisa passar por uma ruptura tão radical quanto mudar de país para se permitir viver a vida como aprendiz.
Agora quem já passou por cisões mais profundas - tipo quem entende em primeira pessoa que "mudar de classe social pode ser mais difícil do que mudar de país" - consegue até, quem sabe, se divertir com o processo em algumponto. Ou (e) criar histórias a partir disso, como você fez, pra nossa sorte. :}