Há alguns anos, quando me mudei para São Paulo, comecei a conhecer pessoas muito cultas, descoladas e cheias de referências que eram muito boas no jogo de dropar nomes. Que consistia em elencar, no meio de uma conversa casual, quem elas conheciam, os lugares que já tinham visitado, os livros que já tinham lido, seguido de um "como assim você não conhece?" quando eu demonstrava não saber do que elas estavam falando.
Nada como circular nas panelinhas intelectuais de São Paulo para se sentir pobre, desinteressante e atrasada! Eu tinha tanta vergonha de não ter tido acesso às mesmas referências que aquelas pessoas consideravam básicas (desculpa, é que eu não sou daqui, eu vim de outra classe social) que cheguei a listar em um caderno todos esses nomes de autores oh-meu-deus-não-acredito-que-você-nunca-leu.
Faz uns dias esbarrei com essa página e dei risada. Mais da metade desses autores listados posso dizer, hoje, que já li. Seria questão de tempo meu caminho cruzar com o deles. Só deixei acontecer naturalmente. Nem vem ao caso dropar nomes aqui; lembrei desta anedota quando esses dias uma pessoa me perguntou como saber que ela já tinha background de leitura o suficiente para começar a escrever.
Posso dizer com tranquilidade que não existe algo como uma habilitação para escrever, muito menos uma concedida apenas a quem passar num teste de dropping names; se houvesse, eu estaria lascada. Construir sua bagagem de leituras é tarefa para uma vida inteira e algo que você faz enquanto desenvolve sua escrita. Relaxa: você vai morrer antes de ler tudo o que você gostaria!1