Eu ouço religiosamente um podcast chamado '60 songs that explain the 90s', e tem um episódio sobre a música tema de Reality Bites (sou fã de Lisa Loeb), e a discussão gira em torno das decisões da Lelania de ficar ou não com o músico desajustado, ou 'se vender' e ficar com o yuppie. E esse conceito de se vender, de se curvar ao sistema, ficou ressoando um bom tempo para mim. Minha sensação de inadequação com os tempos que vivemos, com o descompasso com as modas da geração Z, vem daí. Vivi as décadas que celebravam a contracultura, da juventude que queria romper com a norma e o status quo. Não que eu fosse um neo-beat ou algo assim - longe de mim. Mas eu sinto que um dos piores legados da internet que só conseguimos enxergar agora é que viramos todos vendidos. O capitalismo venceu, viramos todos gado do sistema, e não existe nada mais underground hoje em dia que viver offline. Só que essa revolução não está vindo da juventude. Talvez ela venha pela primeira vez de nós 'velhos'.
Caraca, seu comentário me pegou bastante. Me vejo nessa juventude que se identificava com a contracultura, com o underground, de ser contra o sistema. A contracultura um dia já foi a internet, e as possibilidades que ela nos oferecia fora do mainstream. E olha eu aqui, teimando em firmar meu lugar nesse espaço que já virou um grande shopping-cassino. Invariavelmente a gente acaba virando o que lá atrás lutava contra, será?
Sempre fico impressionada com a sintonia. Estive essas últimas semanas absolutamente fascinada com a ideia do tempo. Pode ser porque estou encerrando um grande momento (doutorado) e caindo num enorme desconhecido, mas enfim. Fiquei lendo teu texto e pensando como é interessante esse movimento entre gerações. Sou psicóloga e atendo várias pessoas nascidas no pós 2000. Daí de vez em quando eu paro e penso que eles não passaram sequer pelo bug do milênio! Ao mesmo tempo, as questões são muito questões que eu e meus amigos também tínhamos na adolescência/juventude. O tempo muda, são outros aplicativos, outros artistas, outros produtos nas prateleiras, mas algumas coisas permanecem (ainda que também com outras roupagens). É muito bom envelhecer. Caso a fada da volta no tempo chegasse me propondo refazer os últimos 20 anos, eu recusaria. Daqui é só pra frente (e tomara que tenha muito caminho).
Toda uma geração marcada pelo medo de que o mundo fosse entrar em PANE porque os computadores não estavam preparados para virar o calendário para o ano final 00. Não vou nem contar pros mais novos para eles não rirem da minha cara. Não por acaso tem tanto millenial dando bug até hoje. Beijinho!
Alana, atendendo xóvens, também reflito sobre as questões que atravessam gerações e as repetições que, como você disse, só alteram a roupagem! Somos mais e menos próximos do que imaginamos, rs
Além da cultura, sociedade e contexto histórico que sempre é meio merda, vale lembrar que o cérebro dos xovens apenas termina de se formar aos 25 e que a última parte a ser mielinizada (receber uma camadinha pra acelerar a conexão do tico e do teco) é a pré-frontal que entre outras coisas regula emoções e ajuda a planejar as coisas - OU SEJA, até os 25, por mais "maduro" que você seja, ainda não tem todas as ferramentas pra parar de fazer merda achando que tá arrazando. Queria que fosse uma passada de pano, pena que é a biologia. Ser uma 30+ years old teenage girl é bom demais. Bom demais também é perder as novidades. Quando se é jovem a gente acha que os véio são perdedores por não se atualizarem, PORÉM hoje percebo que é apenas uma falta enorme de interesse em determinados assuntos, pois: não fazem diferença - dai a capacidade do cérebro depois dos 25 selecionar e priorizar melhor as coisas.
Maior livramento não precisar se atualizar nas modinhas do momento! Bom que algumas coisas não têm data de validade, assim a gente pode ficar no repeat ouvindo as mesmas músicas véias de sempre. Obrigada pelo comentário!
Não sei acho que ser descolado da realidade só é possível, para uma juventude de classe média ou de classe média alta, já que os jovens da classe C sempre estão em voltas com a a questão do dinheiro e de pagar as contas. Ou talvez não essa onda de coaching ou mesmo as igrejas que prosperam em áreas periféricas são indicativos de descolamento também. Não sei seus textos sempre me fazem pensar obrigada.
Sou gen Z mas do final da década de noventa, tento ser delulu, mas sempre fui muito pessimista pra isso.
Eu abri um sorriso na primeira linha desse texto que me acompanhou (em maiores ou menores proporções) até o final. Que texto incrível!
Esse é um assunto que tenho pensado muito nos últimos anos, pois eu sou uma mistura muito louca de duas gerações. Nasci em 1990, então sou milennial. Porém, desde 2012 quando entrei "atrasado" na faculdade, passei a conviver com pessoas mais novas (sempre o velho do rolê). Depois, quando comecei a ter uma presença maior na internet, boa parte das minhas amizades são gen Z. Com isso, desenvolvi algumas manias e gostos dessa geração (um dos exemplos é o fascínio pelo k-pop e cultura coreana no geral).
Como se não bastasse, ainda estou passando por algo meio deja-vu que me faz pensar muito em um retorno ao início da vida adulta. Após voltar para a casa da minha mãe por conta da pandemia, estou voltando a abrir as asas e me preparando para alçar um novo voo. Isso tudo faz uma bagunça na minha mente e me faz chegar na mesma conclusão do seu texto: há muito mais semelhanças do que diferenças entre as gerações. No meu caso, é uma mistura que acaba dando muito certo de nostalgia e delulu que me impulsiona para frente.
Eu acho bem louco esse lance de geração porque na definição os millenials (como eu) nasceram até 1995. Ou seja, tem millenial andando por aí que ainda nem fez 30 anos hahaha. Eu sou de 1987 e me sinto super distante de jovens de 28-29 anos.
Esta edição veio especial, hein? Me inscrevi aqui recentemente e toda essa discussão do tempo e das gerações me toca, é tema recorrente de algumas rodas de conversas com amigos. Desde a análise de um filme dos anos 90 (serviu como recomendação também para incluir na minha lista para assistir), citação de Fernanda Torres, até o vídeo que você publicou no seu Instagram, foram excelentes, bem amarrados! Terminei a leitura com certa nostalgia, que pequenas partes do que me constituem estão desconexos nesse mundo, mas de modo agridoce, tá tudo bem estarem morrendo também. Na verdade, ainda fazem sentido pra mim, ainda estão presentes.
Me sinto a pessoa de outra geração que tem um olhar crítico pros hábitos e interesses da atual.
Falando como psicanalista, me chamou muita atenção essa fuga do Real levada ao extremo da fantasia. Também lembrei do Segredo (minha mãe não me deixaria esquecer!). Que efeito será que isso tem no que de vez em quando pode ser soterrado pelo sorriso meio Pearl?
:')
Agora, como Carolina, eu adorei o "delírio pra chamar de seu". O meu é abraçar a ideia de que um dreamboard muito bem organizado no Pinterest é um passo crucial em direção a conquista do que está contido nele. Excelente texto, Aline!
Hahahaha! O Pinterest é a plataforma mais delulu que existe! Ela serve justamente para colecionar nossos desejos, roupas legais, como eu poderia cortar o cabelo, decoração que gostei, ideias e referências... não por acaso é a única rede que não me dá engulhos de ansiedade depois de passar um tempo navegando nela! Freud explica?
Com bilionários a um ponto de moer bebês para terem as células tronco das suas terapias de rejuvenescimento, o planeta chegando na etapa do "ou vocês ou eu" enquanto várias espécies desaparecem e tantos outros whatefuckismos que temos visto, acho que vou embarcar na dos delulu também. Me lembrou da cultura zazou na França da Segunda Guerra Mundial.
"It was their ironic and sarcastic comments on the Nazi/Vichy rulers, their dandyism and hedonism, their suspicion of the work ethic and their love of "decadent" jazz that distinguished them as one of the prototype youth movements questioning society."
E aqui nós em pleno 2024 ainda tendo que lutar contra nazi. Faz sentido os Zazou voltarem mesmo
Respondi à enquete como zoomer mas nasci em 1997, o que me deixa ali entre os millenials e os z. Então fica muito em mim a nostalgia mas também a percepção de que o trabalho é só uma parte do meu dia, não preciso necessariamente trabalhar com algo que me faz feliz. Existe algo que tenho que fazer pra sobreviver que vai me trazer felicidade? Eu acho que não.
Acho que o ano em que nascemos faz com que a gente divida as dores e as delícias de uma década, o que faz as gerações aí existirem.
Eu gosto da gz. Apenas viver é uma coisa difícil pros millenials.
Putz, invejo demais essa percepção de que o trabalho é uma parte do meu dia, não a minha vida inteira. Penso se isso não é muito da cultura brasileira, também. Me confrontei com essa forma alienígena de pensar (trabalhar pra ter tempo livre) quando mudei de país
Excelente texto! Sou gen Z, nasci em 98. Ao mesmo tempo sinto essa fronteira muito borrada aqui. Cresci com uma irmã nascida em 91 e rodeada pelos amigos dela, então acabei pegando bastante referência millenial na infância. Hoje sou casada, mãe de uma criancinha, então me atravessa muito esse papo adulto todo (maternidade, casamento, grana etc). Mas apesar de estar aqui antes de dormir lendo esse texto, há uma hora atrás eu tava vendo um vlog da Emma Chamberlain (influencer fashion gen z) comprando roupa em brechó em NYC e montando esses looks ‘trend’ que eu super entendo a lógica, mas minha irmã de 33 não.
Muito confuso e gostoso também entender que cada um transita pelas fronteiras de acordo com a coleção de referenciais que a vida forneceu. Há um tempo não tenho mais redes sociais e esse foi o meu ato mais millenial depois de parir. Descobri com isso uma gama de jovenzitos com vinte e poucos que estão vivendo off-line e pregando por aí essa palavra. Apesar de aparentarmos estar cronicamente online e viajando muito na maionese, eu acho que tem uma galera zoomer que entendeu o ‘delulu’ enquanto um movimento pra fazer o melhor que pode pra aguentar a vida. Afinal, já nascemos no capitalismo tardio e na crise climática mais fudida, então esperança não é o forte dessa geração.
Acho que há realmente um quê de Delulu nessa fantasia de conflito geracional. Quando vejo consultores de Gap Geracional tudo me parece ainda mais um esquema para vender óleo de cobra pra gente que sofre de males imaginários. Porém, preciso discordar sobre o conceito de que todas as gerações (jovens) são similares. Meio como na imagem da construção da psiquê, as gerações (jovens) estão construindo novas cidades sobre as ruínas de cidades antigas e, por mais que se justifiquem como um contraponto ao que há no mundo dito adulto, elas tem características muito próprias que se afastam muito da ideia de serem delusionals. Assim, em contraponto ao inferno com ar condicionado dos Estados Unidos pós Guerra, os beats e, em consequência, os hippies fizeram tentativas de novos modelos de vida. O mesmo aconteceu com o niilismo da Geração X, da qual faço parte, e vai acontecer com a gerações mais novas. Mas nada disso foi inócuo ou esquecido. Afinal, quando envelhecemos podemos mudar de pele, mas a carne permanece a mesma e as gerações (jovens) carregam essa cultura quando se tornam velhos. Assim os beats e os hippies abriram as portas da percepção e da sociedade para uma visão mais intelectualizada e psicanalisada do mundo, enquanto a geração X tornou aceitável o paradoxo de viver numa realidade com a qual não concorda (ou mesmo odeia). Talvez essas conquistas dos jovens sejam menosprezadas pois o processo de suas lutas (ou falta delas, no caso da Geração X) seja sempre histriônica. Mas as gerações jovens sempre nos ajudam a construir novas propostas de mundo e alimentam, com pequenas e incisivas contribuições, a cultura dos mundos vindouros. Nesse conflito entre jovens e velhos não há vencedores, apenas maturação. Das pessoas, da cultura e das nossas relações. Enfim, amadurecer pode ser incrível, mas não existe sem o preço que precisamos pagar sermos (ou termos sido) jovens. Quem diria que, depois de velho, eu ia defender os jovens que sempre maldisse quando era um deles?
Nasci em 1980, estou na fronteira da geração X com a Millenial, mas me identifico bem mais com os millenials do que com os X, ou o pessoal da minha idade. Inclusive também costumo ser a mais velha da turma. Aí não soube o que responder na sua enquete, rs. Concordo com a parte que no fim das contas, os dilemas da juventude são sempre parecidos no seu âmago, não importa a roupagem. Já sobre a "inconsequência" da juventude, tem uns textos que mostram que sempre existiram críticas ao jovens como geração perdida, passa pelos vitorianos até a Grécia antiga. No fim, é a falta de experiência que ajuda nisso e os jovens mais "soltinhos" se destacam mais e definem o conjunto, mas deve sempre existir os jovens mais quietos. Pensando que eu jovem não era nem um pouco inconsequente, e isso não gera registro para posteridade, será? Divaguei e perdi o fio da meada, rs.
Eu ouço religiosamente um podcast chamado '60 songs that explain the 90s', e tem um episódio sobre a música tema de Reality Bites (sou fã de Lisa Loeb), e a discussão gira em torno das decisões da Lelania de ficar ou não com o músico desajustado, ou 'se vender' e ficar com o yuppie. E esse conceito de se vender, de se curvar ao sistema, ficou ressoando um bom tempo para mim. Minha sensação de inadequação com os tempos que vivemos, com o descompasso com as modas da geração Z, vem daí. Vivi as décadas que celebravam a contracultura, da juventude que queria romper com a norma e o status quo. Não que eu fosse um neo-beat ou algo assim - longe de mim. Mas eu sinto que um dos piores legados da internet que só conseguimos enxergar agora é que viramos todos vendidos. O capitalismo venceu, viramos todos gado do sistema, e não existe nada mais underground hoje em dia que viver offline. Só que essa revolução não está vindo da juventude. Talvez ela venha pela primeira vez de nós 'velhos'.
Caraca, seu comentário me pegou bastante. Me vejo nessa juventude que se identificava com a contracultura, com o underground, de ser contra o sistema. A contracultura um dia já foi a internet, e as possibilidades que ela nos oferecia fora do mainstream. E olha eu aqui, teimando em firmar meu lugar nesse espaço que já virou um grande shopping-cassino. Invariavelmente a gente acaba virando o que lá atrás lutava contra, será?
Sempre fico impressionada com a sintonia. Estive essas últimas semanas absolutamente fascinada com a ideia do tempo. Pode ser porque estou encerrando um grande momento (doutorado) e caindo num enorme desconhecido, mas enfim. Fiquei lendo teu texto e pensando como é interessante esse movimento entre gerações. Sou psicóloga e atendo várias pessoas nascidas no pós 2000. Daí de vez em quando eu paro e penso que eles não passaram sequer pelo bug do milênio! Ao mesmo tempo, as questões são muito questões que eu e meus amigos também tínhamos na adolescência/juventude. O tempo muda, são outros aplicativos, outros artistas, outros produtos nas prateleiras, mas algumas coisas permanecem (ainda que também com outras roupagens). É muito bom envelhecer. Caso a fada da volta no tempo chegasse me propondo refazer os últimos 20 anos, eu recusaria. Daqui é só pra frente (e tomara que tenha muito caminho).
obs: millenial de 1991.
Toda uma geração marcada pelo medo de que o mundo fosse entrar em PANE porque os computadores não estavam preparados para virar o calendário para o ano final 00. Não vou nem contar pros mais novos para eles não rirem da minha cara. Não por acaso tem tanto millenial dando bug até hoje. Beijinho!
Alana, atendendo xóvens, também reflito sobre as questões que atravessam gerações e as repetições que, como você disse, só alteram a roupagem! Somos mais e menos próximos do que imaginamos, rs
Além da cultura, sociedade e contexto histórico que sempre é meio merda, vale lembrar que o cérebro dos xovens apenas termina de se formar aos 25 e que a última parte a ser mielinizada (receber uma camadinha pra acelerar a conexão do tico e do teco) é a pré-frontal que entre outras coisas regula emoções e ajuda a planejar as coisas - OU SEJA, até os 25, por mais "maduro" que você seja, ainda não tem todas as ferramentas pra parar de fazer merda achando que tá arrazando. Queria que fosse uma passada de pano, pena que é a biologia. Ser uma 30+ years old teenage girl é bom demais. Bom demais também é perder as novidades. Quando se é jovem a gente acha que os véio são perdedores por não se atualizarem, PORÉM hoje percebo que é apenas uma falta enorme de interesse em determinados assuntos, pois: não fazem diferença - dai a capacidade do cérebro depois dos 25 selecionar e priorizar melhor as coisas.
Maior livramento não precisar se atualizar nas modinhas do momento! Bom que algumas coisas não têm data de validade, assim a gente pode ficar no repeat ouvindo as mesmas músicas véias de sempre. Obrigada pelo comentário!
Não sei acho que ser descolado da realidade só é possível, para uma juventude de classe média ou de classe média alta, já que os jovens da classe C sempre estão em voltas com a a questão do dinheiro e de pagar as contas. Ou talvez não essa onda de coaching ou mesmo as igrejas que prosperam em áreas periféricas são indicativos de descolamento também. Não sei seus textos sempre me fazem pensar obrigada.
Sou gen Z mas do final da década de noventa, tento ser delulu, mas sempre fui muito pessimista pra isso.
Eu abri um sorriso na primeira linha desse texto que me acompanhou (em maiores ou menores proporções) até o final. Que texto incrível!
Esse é um assunto que tenho pensado muito nos últimos anos, pois eu sou uma mistura muito louca de duas gerações. Nasci em 1990, então sou milennial. Porém, desde 2012 quando entrei "atrasado" na faculdade, passei a conviver com pessoas mais novas (sempre o velho do rolê). Depois, quando comecei a ter uma presença maior na internet, boa parte das minhas amizades são gen Z. Com isso, desenvolvi algumas manias e gostos dessa geração (um dos exemplos é o fascínio pelo k-pop e cultura coreana no geral).
Como se não bastasse, ainda estou passando por algo meio deja-vu que me faz pensar muito em um retorno ao início da vida adulta. Após voltar para a casa da minha mãe por conta da pandemia, estou voltando a abrir as asas e me preparando para alçar um novo voo. Isso tudo faz uma bagunça na minha mente e me faz chegar na mesma conclusão do seu texto: há muito mais semelhanças do que diferenças entre as gerações. No meu caso, é uma mistura que acaba dando muito certo de nostalgia e delulu que me impulsiona para frente.
Adorei essa reflexão, Aline!
Maravilhoso comentário! Um bom exemplo de como essas fronteiras geracionais são super borradas. Obrigada pela leitura, Rafael! <3
Eu acho bem louco esse lance de geração porque na definição os millenials (como eu) nasceram até 1995. Ou seja, tem millenial andando por aí que ainda nem fez 30 anos hahaha. Eu sou de 1987 e me sinto super distante de jovens de 28-29 anos.
Esta edição veio especial, hein? Me inscrevi aqui recentemente e toda essa discussão do tempo e das gerações me toca, é tema recorrente de algumas rodas de conversas com amigos. Desde a análise de um filme dos anos 90 (serviu como recomendação também para incluir na minha lista para assistir), citação de Fernanda Torres, até o vídeo que você publicou no seu Instagram, foram excelentes, bem amarrados! Terminei a leitura com certa nostalgia, que pequenas partes do que me constituem estão desconexos nesse mundo, mas de modo agridoce, tá tudo bem estarem morrendo também. Na verdade, ainda fazem sentido pra mim, ainda estão presentes.
Bienvenida, Tats! Fico feliz que tenha gostado desse passeio nostálgico ;)
Me sinto a pessoa de outra geração que tem um olhar crítico pros hábitos e interesses da atual.
Falando como psicanalista, me chamou muita atenção essa fuga do Real levada ao extremo da fantasia. Também lembrei do Segredo (minha mãe não me deixaria esquecer!). Que efeito será que isso tem no que de vez em quando pode ser soterrado pelo sorriso meio Pearl?
:')
Agora, como Carolina, eu adorei o "delírio pra chamar de seu". O meu é abraçar a ideia de que um dreamboard muito bem organizado no Pinterest é um passo crucial em direção a conquista do que está contido nele. Excelente texto, Aline!
Hahahaha! O Pinterest é a plataforma mais delulu que existe! Ela serve justamente para colecionar nossos desejos, roupas legais, como eu poderia cortar o cabelo, decoração que gostei, ideias e referências... não por acaso é a única rede que não me dá engulhos de ansiedade depois de passar um tempo navegando nela! Freud explica?
Com bilionários a um ponto de moer bebês para terem as células tronco das suas terapias de rejuvenescimento, o planeta chegando na etapa do "ou vocês ou eu" enquanto várias espécies desaparecem e tantos outros whatefuckismos que temos visto, acho que vou embarcar na dos delulu também. Me lembrou da cultura zazou na França da Segunda Guerra Mundial.
"It was their ironic and sarcastic comments on the Nazi/Vichy rulers, their dandyism and hedonism, their suspicion of the work ethic and their love of "decadent" jazz that distinguished them as one of the prototype youth movements questioning society."
E aqui nós em pleno 2024 ainda tendo que lutar contra nazi. Faz sentido os Zazou voltarem mesmo
Bela síntese pró-delulu, Eric, ahuahuah
Eu me vi demais nessas palavras! Nasci ali, em 1983. Muuuuito nostálgica, hoje fico em busca de resgates como esse.
Respondi à enquete como zoomer mas nasci em 1997, o que me deixa ali entre os millenials e os z. Então fica muito em mim a nostalgia mas também a percepção de que o trabalho é só uma parte do meu dia, não preciso necessariamente trabalhar com algo que me faz feliz. Existe algo que tenho que fazer pra sobreviver que vai me trazer felicidade? Eu acho que não.
Acho que o ano em que nascemos faz com que a gente divida as dores e as delícias de uma década, o que faz as gerações aí existirem.
Eu gosto da gz. Apenas viver é uma coisa difícil pros millenials.
Putz, invejo demais essa percepção de que o trabalho é uma parte do meu dia, não a minha vida inteira. Penso se isso não é muito da cultura brasileira, também. Me confrontei com essa forma alienígena de pensar (trabalhar pra ter tempo livre) quando mudei de país
Excelente texto! Sou gen Z, nasci em 98. Ao mesmo tempo sinto essa fronteira muito borrada aqui. Cresci com uma irmã nascida em 91 e rodeada pelos amigos dela, então acabei pegando bastante referência millenial na infância. Hoje sou casada, mãe de uma criancinha, então me atravessa muito esse papo adulto todo (maternidade, casamento, grana etc). Mas apesar de estar aqui antes de dormir lendo esse texto, há uma hora atrás eu tava vendo um vlog da Emma Chamberlain (influencer fashion gen z) comprando roupa em brechó em NYC e montando esses looks ‘trend’ que eu super entendo a lógica, mas minha irmã de 33 não.
Muito confuso e gostoso também entender que cada um transita pelas fronteiras de acordo com a coleção de referenciais que a vida forneceu. Há um tempo não tenho mais redes sociais e esse foi o meu ato mais millenial depois de parir. Descobri com isso uma gama de jovenzitos com vinte e poucos que estão vivendo off-line e pregando por aí essa palavra. Apesar de aparentarmos estar cronicamente online e viajando muito na maionese, eu acho que tem uma galera zoomer que entendeu o ‘delulu’ enquanto um movimento pra fazer o melhor que pode pra aguentar a vida. Afinal, já nascemos no capitalismo tardio e na crise climática mais fudida, então esperança não é o forte dessa geração.
Acho que há realmente um quê de Delulu nessa fantasia de conflito geracional. Quando vejo consultores de Gap Geracional tudo me parece ainda mais um esquema para vender óleo de cobra pra gente que sofre de males imaginários. Porém, preciso discordar sobre o conceito de que todas as gerações (jovens) são similares. Meio como na imagem da construção da psiquê, as gerações (jovens) estão construindo novas cidades sobre as ruínas de cidades antigas e, por mais que se justifiquem como um contraponto ao que há no mundo dito adulto, elas tem características muito próprias que se afastam muito da ideia de serem delusionals. Assim, em contraponto ao inferno com ar condicionado dos Estados Unidos pós Guerra, os beats e, em consequência, os hippies fizeram tentativas de novos modelos de vida. O mesmo aconteceu com o niilismo da Geração X, da qual faço parte, e vai acontecer com a gerações mais novas. Mas nada disso foi inócuo ou esquecido. Afinal, quando envelhecemos podemos mudar de pele, mas a carne permanece a mesma e as gerações (jovens) carregam essa cultura quando se tornam velhos. Assim os beats e os hippies abriram as portas da percepção e da sociedade para uma visão mais intelectualizada e psicanalisada do mundo, enquanto a geração X tornou aceitável o paradoxo de viver numa realidade com a qual não concorda (ou mesmo odeia). Talvez essas conquistas dos jovens sejam menosprezadas pois o processo de suas lutas (ou falta delas, no caso da Geração X) seja sempre histriônica. Mas as gerações jovens sempre nos ajudam a construir novas propostas de mundo e alimentam, com pequenas e incisivas contribuições, a cultura dos mundos vindouros. Nesse conflito entre jovens e velhos não há vencedores, apenas maturação. Das pessoas, da cultura e das nossas relações. Enfim, amadurecer pode ser incrível, mas não existe sem o preço que precisamos pagar sermos (ou termos sido) jovens. Quem diria que, depois de velho, eu ia defender os jovens que sempre maldisse quando era um deles?
acho que todos precisam de um pouco de Delulu nas nossas vidas haha!
Nasci em 1980, estou na fronteira da geração X com a Millenial, mas me identifico bem mais com os millenials do que com os X, ou o pessoal da minha idade. Inclusive também costumo ser a mais velha da turma. Aí não soube o que responder na sua enquete, rs. Concordo com a parte que no fim das contas, os dilemas da juventude são sempre parecidos no seu âmago, não importa a roupagem. Já sobre a "inconsequência" da juventude, tem uns textos que mostram que sempre existiram críticas ao jovens como geração perdida, passa pelos vitorianos até a Grécia antiga. No fim, é a falta de experiência que ajuda nisso e os jovens mais "soltinhos" se destacam mais e definem o conjunto, mas deve sempre existir os jovens mais quietos. Pensando que eu jovem não era nem um pouco inconsequente, e isso não gera registro para posteridade, será? Divaguei e perdi o fio da meada, rs.
Sou apaixonada pelo filme Caindo na Real! Assisti muitas vezes nos meus 20 e alguma coisa!